Os relatos colhidos pela
força-tarefa montada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) no caso João
de Deus mostram a “perversidade” dos crimes cometidos pelo médium, segundo a
promotora Silvia Chakian, do MP-SP. De acordo com ela, há uma “repetição de
comportamentos” por parte do religioso.
“Os relatos são de muita
verdade, muita credibilidade de mulheres que não se conhecem e que vêm de
várias partes do estado”, disse ela em entrevista à Jovem Pan.“Essa violência traz reflexos não só a curto prazo, mas também a longo prazo, o que é próprio da violência sexual, complementa.
Outra característica desse
tipo de crime que a promotora ressalta é o medo de as vítimas denunciarem. Tem
também o que ela chamou de “efeito cascata”, ou seja, o fato de o depoimento de
uma vítima encorajar as outras. “É frequente nos depoimento nós ouvirmos: ‘Como
falar alguma coisa contra o João de Deus se eu acreditava que estava sozinha,
que não tinha provas? Quem iria acreditar em mim, sendo que ele é um homem tão
poderoso'”, explica a promotora.
As primeiras acusações contra
João de Deus foram dadas na última sexta-feira (7) ao jornalista Pedro Bial, no
programa Conversa com Bial, da TV Globo. Ele diz que é “inocente”. Veja o que
se sabe até agora do caso.
Ministérios Públicos de todos
os estados devem acolher as vítimas e realizar as oitivas. Depois, os relatos
precisam ser encaminhados para o MP de Goiás, que está responsável por esse
caso. Embora não haja um prazo, a promotora explica que a ideia é que esses
depoimentos sejam colhidos nas próximas duas semanas. Até sexta-feira, dia 14,
o MP de São Paulo tem mais vinte relatos marcados para serem colhidos.
Após essa fase da
investigação, o MP goiano ficará responsável por identificar os crimes nos
relatos das vítimas, contar quantas vezes eles foram praticados e, aí sim,
fazer a denúncia contra João de Deus. “Nós ainda não ouvimos em São Paulo, mas
sabemos que há relatos de mulheres que foram abusadas quando ainda eram menores
de idade; outras que foram abusadas no contexto de vulnerabilidade; e outras
que relatam violência física mesmo; ou seja, cada um desses é um tipo de crime
diferente”, diz Chakian.
Questionada sobre se esse caso
pode ser equiparado ou até mesmo superar o do médico Roger Abdelmassih, a
promotora diz que ainda é difícil fazer uma análise porque não se sabe o número
exato de vítimas. “Sem contar que também é muito difícil medir violência, medir
a violação de direitos humanos”, afirma ela. “Nesse primeiro momento, ainda é
prematuro comparar”, completa.
Abdelmassih foi condenado a
181 anos de prisão pelo estupro de 37 pacientes. Atualmente, ele cumpre prisão
domiciliar por problemas de saúde.
Como denunciar
Em São Paulo, as mulheres
podem entrar em contato com o Ministério Público por meio do endereço de e-mail
somosmuitas@mpsp.mp.br.
Quem estiver em outros
estados, pode falar com o Ministério Público de Goiás pelo e-mail criado pela
força-tarefa do estado: denuncias@mpgo.mp.br.
A promotora Silvia Chakian
garante que as informações e o conteúdo dos depoimentos serão mantidos em
sigilo.
Por: Jovempan/ Foto:Internet