Pandemia faz noiva de Belo Horizonte 'se casar' com o sogro — Foto: Paula Sabatini Brandão/Arquivo pessoal |
História de amor incomum envolve o novo normal, casamento por procuração, distâncias intercontinentais e a ajuda da tecnologia.
O coronavírus impôs inúmeras
mudanças na vida das pessoas. Em Belo Horizonte, a pandemia fez com que uma
noiva "se casasse" com o sogro, que mal conhecia pessoalmente. Mas
calma! Não é nada disso que você está pensando. É uma história de amor incomum,
que envolve o novo normal, casamento por procuração, distâncias
intercontinentais e a ajuda da tecnologia.
O amor entre ela o
engenheiro Guilherme Augusto Brandão Silva, também de 40 anos, deu tantas
voltas até se concretizar que foi parar até no programa "Que história é
essa, Porchat", do GNT.
Pandemia faz noiva de Belo
Horizonte 'se casar' com o sogro — Foto: Paula Sabatini Brandão/Arquivo pessoal
Logo no início da pandemia, Paula, que era resistente a aplicativos de paquera, foi convencida por amigos a fazer um perfil. E, apesar da descrença na tecnologia como cupido, o "match" que mudaria sua vida veio com um toque na tela do celular.
Foi assim que ela conheceu, mesmo que à distância, seu futuro marido. Apesar de na época o casal morar em Belo Horizonte, a internet foi o local oficial dos encontros por vários meses.
“A gente começou a conversar, foi ganhando intimidade. Mas toda vez que a gente combinava de se encontrar, eu ficava com medo. Eu pensava: ‘Ele é um cara legal, estou gostando dele, a gente vai acabar querendo tirar a máscara’. Aí eu acabava desistindo, mas deixava claro que era exclusivamente por causa da pandemia”, relembra.
Paula e Guilherme se casaram à distância por meio de procuração — Foto: Paula Sabatini Brandão/Arquivo Pessoal |
Isso não foi impedimento
para a história de amor que só estava começando – e encontraria mais desafios
pela frente. De abril até setembro, os dates virtuais seguiram e Guilherme já
tinha se tornado até íntimo da mãe da Paula.
Mas o destino quis que, além da pandemia, o futuro casal encontrasse mais um obstáculo. Por causa do trabalho, Guilherme se mudou para a Holanda.
Foi só depois disso que Paula finalmente tomou coragem para se encontrar pessoalmente com o engenheiro. Mas os mais de 9 mil quilômetros de distância e um oceano no meio do caminho eram os menores dos empecilhos.
“A gente tentou que ele viesse, mas a empresa não recebeu bem porque estava aquela loucura dos índices da pandemia por aqui. E eu não podia ir porque o voo para lá estava banido”, disse.
Paula e Guilherme junto na Holanda. — Foto: Arquivo pessoal |
A entrada de brasileiros na Holanda estava restrita a pouquíssimas situações. Uma das brechas era para casais que estavam separados por causa da pandemia. Mas tinha só um detalhe: o relacionamento tinha que ser comprovado. Mas como reunir fotos de casal ou passagens de viagens anteriores se Paula e Guilherme só haviam estado juntos virtualmente? Restava apenas uma alternativa. “A declaração dos parentes era a última coisa”, disse.
Depois de convencer os
familiares fazer as declarações, o amor do casal também convenceu as
autoridades holandesas.
Paula e Guilherme quando finalmente se encontraram. — Foto: Arquivo pessoal
"A tecnologia foi muito boa pra gente. A gente já tinha se conhecido de uma maneira que poucas se conhecem em encontros [presenciais]. Então, não teve susto quando a gente se encontrou. Até o apartamento dele eu já conhecia", contou.
Paula viajou algumas outras vezes à Holanda, mas o recrudescimento da pandemia fez com que a entrada de brasileiros fosse completamente suspensa na terra das tulipas.
O casal comemorou junto o réveillon — Foto: Arquivo pessoal |
'Casamento' com sogro
Em meio às incertezas de
quando poderiam se ver novamente, Paula foi pedida em casamento. E é aí que o
sogro entra nesta história. Na união, que foi oficializada por meio de uma
procuração, Augusto Silva Filho foi o representante legal de Guilherme.
Augusto Silva Filho disse o tão esperado 'sim' no lugar do noivo — Foto: Paula Sabatini Brandão/Arquivo pessoal
E a “casamento” entre nora e
sogro está todo registrado num álbum de fotografia, já que Paula acabou
comprando o pacote completo oferecido no cartório.
“Eu tentava explicar que não queria nada, porque ele não era o noivo. Mas ninguém entendia nada, por causa das máscaras e da história mesmo. E no final me rendi, caí em tudo. Até o ramalhete mais caro minha mãe escolheu”, conta.
Enquanto o sogro dizia o tão esperado “sim” em nome do filho, Guilherme assistia a tudo por videochamada. E foi assim que ele participou da comemoração do próprio casamento, onde as famílias se reuniram pela primeira vez.
“Mas fiquei esperando minha lua de mel porque não queria que fosse por procuração”, brinca Paula.
Paula e Guilherme junto na Holanda. — Foto: Arquivo pessoal |
Só em maio, ela e Guilherme finalmente conseguiram celebrar juntos o casamento. Mas essa história enfrenta uma nova saga, agora no Oriente Médio. O engenheiro recebeu uma proposta para trabalhar no Catar. Ele já se mudou e Paula está de malas prontas só à espera de alguns trâmites.
“Nem pandemia, esse vírus doido, distância intercontinental. Nada conseguiu nos impedir, porque a gente estava comprometido em fazer dar certo. E valeu muito”, comemora ela.
Por Raquel Freitas, g1 Minas