Vaticano aprova benção - Foto: Thilo Schmuelgen - 10.mai.21/Reuters |
Em decisão histórica, o Vaticano autorizou nesta segunda (18) a bênção a casais de pessoas do mesmo sexo e àqueles considerados, pela ótica da igreja, "em situação irregular". A instituição, porém, não alterou seu veto ao casamento homoafetivo.
O documento aprovado pelo papa
Francisco, que recém-completou 87 anos, destaca que o ato em nada deve se
assemelhar ao matrimônio. "Essa bênção nunca será realizada ao mesmo tempo
que os ritos civis de união, nem em conexão com eles. Nem mesmo com as
vestimentas, gestos ou palavras próprias de um casamento", diz um trecho.
E acrescenta que existe
"a possibilidade de bênçãos para casais em situações irregulares e casais
do mesmo sexo, cuja forma não deve encontrar nenhuma fixação ritual por parte
das autoridades, para não produzir confusão com a bênção do sacramento do
matrimônio".
A marca do pontífice argentino
está sinalizada no corpo do texto do Dicastério para a Doutrina da Fé. Nele, o
prefeito do dicastério, o cardeal Víctor Manuel Fernández, também argentino,
afirma que a declaração visa permitir "uma ampliação e um enriquecimento"
da compreensão clássica que se tem da bênção por meio de uma reflexão teológica
"baseada na visão pastoral do papa Francisco".
Trata-se da primeira vez que a
igreja abre caminho para a bênção a casais do mesmo sexo, um tema que gera
tensão interna devido à forte oposição da ala conservadora, especialmente a
baseada nos Estados Unidos, já muito crítica a Francisco.
Ao considerar a concessão de
bênçãos aos que não vivem segundo as normas da doutrina moral cristã, o
documento sinaliza que as bênçãos devem ser entendidas como atos de devoção e
que quem a solicita "não deve ser obrigado a ter perfeição moral prévia"
para recebê-la.
Apesar de a união de casais do
mesmo sexo não ser reconhecida pela Santa Sé, alguns padres já os abençoavam,
principalmente em países como Bélgica e na Alemanha.
A declaração desta
segunda-feira ocorre seis semanas após a conclusão do Sínodo dos Bispos, uma
reunião episcopal de especialistas que serve de mecanismo de consulta do papa e
que tem como escopo o futuro da igreja. Também participaram desta edição mulheres
e leigos que, entre outros temas, debateram como se aproximar de grupos
marginalizados pela igreja, como divorciados em segundo casamento e pessoas
LGBT+.
Em outubro, cinco cardeais
conservadores pediram ao papa que reafirmasse a doutrina católica tradicional
sobre casais homoafetivos, mas o documento final do Sínodo deixou de lado essa
questão.
Em 2021, o Vaticano reiterou
sua opinião de que a homossexualidade é um "pecado" e de que casais
do mesmo sexo não podem receber o sacramento do matrimônio. À época, fiéis
manifestaram frustração pela expectativa de que, sob Francisco, a instituição
se tornasse mais inclusiva e abordasse temas historicamente deixados de lado.
Desde sua eleição em 2013, o
argentino, primeiro papa latino-americano da história e que insiste na
importância de uma igreja "aberta a todos", tem despertado críticas
dos conservadores, especialmente ao limitar o uso da missa em latim em 2021.
Ele também foi alvo da ala
mais conservadora quando defendeu que o atual presidente dos EUA, Joe Biden,
seguisse recebendo a comunhão a despeito de sua defesa pública pelo direito ao
aborto.
Um dos primeiros a comentar a
atualização das regras para as bênçãos foi o padre jesuíta americano James
Martin —neste caso, para elogiá-la. "É um grande passo em frente que
reconhece o profundo desejo de muitos casais católicos do mesmo sexo pela presença
de Deus nas suas relações amorosas", escreveu no X, o antigo Twitter.
Autor de "Building a
Bridge" (construindo uma ponte), o padre Martin foi nomeado em 2017 por
Francisco como consultor da Santa Sé e é um dos principais nomes que atuam no
diálogo com a comunidade LGBT+. "Juntamente com muitos sacerdotes, estarei
feliz por, a partir de agora, abençoar aqueles em uniões do mesmo sexo",
concluiu.
Por Folha Uol