Créditos:Carlos Garcia Rawlins / Reuters |
Reflexos da crise humanitária
em que está mergulhada a Venezuela são sentidos até na hora de os venezuelanos
enterrarem os parentes.
“Levei cinco dias para juntar
dinheiro para recolher o corpo do meu pai do necrotério, outros sete para achar
um espaço no cemitério. Quando não tinha mais como pedir dinheiro a parentes e
amigos para mais nada, decidi que faríamos, com meus irmãos, um caixão com
cartolina. Mas foi tudo com muito amor e oração, sei que ele agora finalmente
está em paz.”
O relato comovido de Willy
Olmedo, 25, do município de Sucre, na região metropolitana de Caracas, à Folha
de S.Paulo, resume alguns desses percalços.
“Aqui mesmo já vi alguns sendo
enterrados em lençóis, coisa que só tinha escutado que estava acontecendo no
interior, agora chegou aos subúrbios de Caracas”, diz.
Se entre os estratos mais
pobres da população falta dinheiro para tirar o corpo de um necrotério público
– trâmite antes gratuito, mas hoje sujeito à cobrança de subornos -, conseguir
espaço num cemitério e até comprar um caixão simples, entre os de classe média
ou mais endinheirados o problema passa também por outros procedimentos, como
cremar ou embalsamar. Muito comum também se tornaram as profanações de
sepulturas, atrás de objetos de valor, e o roubo das placas de ouro ou bronze.
“Tiraram as placas com o nome
de todos os meus familiares. Tivemos de reunir os parentes aqui para fazer um
mapa baseado em nossas lembranças para lembrar quem está onde. Foi muito
doloroso, como reviver cada funeral”, diz Norma Herrera, 52, ao mostrar à
reportagem o lote da família, com buracos nos locais das placas, no tradicional
Cementerio del Este.
Se no começo as cremações
passaram a ser comuns, por conta dos custos de um funeral tradicional, agora
nem estas podem ser feitas em todos os estados do país. Em Zulia, por exemplo,
como reportou a Reuters, Angelica Vera, 27, não pôde cremar o pai, por falta de
gás no cemitério local.
“Essas coisas fazem que a
tragédia da morte continue acentuando a tristeza da ausência de um parente”,
conta Herrera, enquanto mostra, caminhando pelo cemitério caraquenho, algumas
sepulturas com o cartaz: “Esta aqui já foi violada”.
“Quase coloquei um cartaz
assim na nossa. Porque não basta recolocar as placas, reformar sepulturas, se
você pode ter de enfrentar isso tudo de novo”, disse Herrera.
Com a inflação projetada pelo
FMI em 1.000% para este ano e a crise gerada pela falta de papel-moeda no
mercado, há uma busca extra por metais e pedras preciosas.
Além da migração para as
regiões de mineração do país, outra fonte para obtê-los é por meio do roubo de
joias, pedras preciosas, bancos que guardam ouro e, por que não, violação de
sepulturas e roubos de placas em lápides.
Fonte: Alagoas 24h